No dia 9 de novembro, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) reuniu pesquisadores e gestores púbicos para avaliar a reinfecção de trabalhadores da saúde por Covid-19. Essa já é uma realidade entre os profissionais de saúde e existe o medo de que isso possa acontecer com a população em geral.
Essa possibilidade de reinfecção acontece no momento em que voltam a aumentar as internações pela doença; o Estado de São Paulo retrocedeu para a fase amarela e outros estados estão ainda em situação mais grave. Todo o Rio Grande do Sul está na fase vermelha e o Estado do Paraná decretou toque de recolher.
Além do descaso do governo federal, o grande problema é que os estados e municípios não fiscalizam de forma adequada o cumprimento das restrições, principalmente o uso da máscara e as aglomerações. Nas feiras livres da capital de São Paulo, os feirantes não usam máscara, gritam expelindo milhares de gotículas numa multidão sem distanciamento, uma pessoa do lado da outra, esbarrando para passar. E onde estão os fiscais do município para exigir o cumprimento das medidas sanitárias?
Toda essa situação de não fiscalização e não penalização pelo descumprimento das medidas sanitárias podem levar num futuro próximo à necessidade de medidas ainda mais restritivas.
Nos hospitais de São Paulo, em quase duas semanas, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 em hospitais privados paulistas passou de 55% para 85%.
Segundo pesquisa do SindHosp , entre 19 e 26 de novembro houve um aumento de 44,5% para 79% nas internações por causa da doença. No país, a taxa de ocupação por pacientes infectados é de 74,7%.
Profissionais da saúde sobrecarregados
Esse aumento deteriora ainda mais as condições de trabalho na saúde. Segundo Péricles Cristiano Batista Flores, enfermeiro do Hospital Santa Cruz, os enfermeiros e outros trabalhadores continuam com sobrecarga de trabalho, absenteísmo alto por conta dos afastamentos e atestados médicos. Muitos profissionais continuam testando positivo para a Covid-19.
A Fundação Getúlio Vargas realizou uma pesquisa entre 15 de setembro e 15 de outubro deste ano, com 1.520 profissionais da saúde pública no Brasil. Destes, 94,5% dizem conhecer algum companheiro de trabalho com suspeita ou diagnóstico de Covid-19.
Os números também mostram que menos da metade dos enfermeiros, médicos, agentes comunitários e outros que atuam no combate à doença, receberam algum tipo de treinamento para atuar na linha de frente.
A pesquisa “A pandemia da covid-19 e os e as profissionais de saúde pública no Brasil”, organizado pelo NEB FGV-EAESP (Núcleo de Estudos da Burocracia), em parceria com a Fiocruz e com a Rede Covid-19 Humanidades revela também que oito em cada dez dizem sentir medo da doença causada pelo Coronavirus, mas apenas 28,4% afirmaram ter recebido algum tipo de apoio para cuidar da saúde mental.
Os profissionais de saúde brasileiros estão constantemente expostos ao risco de contaminação. E agora, de reinfecção. Segundo boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde, em agosto de 2020, mais de 257 mil profissionais de saúde haviam sido infectados à época, sendo 88,3 mil técnicos e auxiliares de enfermagem, 37,3 mil enfermeiros, 27,4 mil médicos e 12,5 mil agentes comunitários de saúde.
Gabriela Lotta, coordenadora do NEB FGV EASP, responsável pela pesquisa, surpreendeu-se com o resultado: “esperávamos que, após tantos meses do início da pandemia, a situação dos profissionais de saúde estivesse melhor. Mas o cenário que encontramos é desalentador, fruto do descaso governamental: profissionais amedrontados, que se sentem despreparados e sem treinamento, que não receberam EPI ou testagem de forma permanente”, afirma. “A consequência é que temos uma parcela enorme destes profissionais sob estresse e problemas de saúde mental. E a pandemia está longe de terminar.”
A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, Solange diz que a pesquisa mostra mais uma vez a necessidade de distribuição de recursos e materiais de qualidade para a segurança dos trabalhadores, principalmente EPIs e testagem. “Além disso, é preciso ampliar as políticas de suporte emocional e psicológico para os profissionais de ponta”, afirma.
Solange Caetano lembra que o Sindicato continuará na luta para garantir condições de trabalho seguras, fornecimento de EPIs em quantidade e qualidade para que os Enfermeiros possam se proteger, bem como ampliar o número de ações judiciais para garantir a testagem dos profissionais.
Lembrando que já existem várias decisões favoráveis que determinam que algumas instituições de saúde realizem a testagem dos Enfermeiros sintomáticos e assintomáticos a cada 15 dias, como forma de rasteio da doença. Isso impede a transmissão entre os profissionais, pacientes e familiares.
Caso sua instituição não esteja fornecendo EPIs adequados entre em contato com o SEESP.