Mortes por dengue em SP superam números da epidemia de 2013

Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 99 óbitos no estado, de janeiro a março
SÃO PAULO- São Paulo já contabiliza 99 mortes causadas pela dengue neste ano, segundo boletim do Ministério da Saúde com dados até 28 de março. O número já supera com folga os 76 óbitos registrados no Estado em 2013 inteiro, ano da última grande epidemia da doença no país, mas ainda está abaixo do verificado no estado em 2010, quando ocorreram 141 óbitos.
O número de casos da doença é também recorde, superando nesse caso até os números de 2010. Segundo o ministério, foram 257.809 até dia 2 de abril no estado de São Paulo. Campinas concentra o maior número de casos (25.987), seguida de Sorocaba (19.245) e da capital (17.259).
Em meio a campanhas de conscientização e mutirões de combate ao mosquito transmissor, as mortes por dengue preocupam a população. Segundo o infectologista da Rede D’Or, Marcelo Gonçalves, nesse contexto de epidemia, a pessoa com febre deve procurar assistência médica, já que os sintomas da dengue podem se confundir com os de outras enfermidades. Ele alerta que subestimar os sintomas pode levar a uma condição mais grave.
— Os sintomas avançados são dor abdominal contínua e de forte intensidade, vômitos persistentes, sonolência e sangramentos gengivais, ginecológicos ou pela urina. Esses sinais denotam uma possibilidade maior da doença evoluir — comenta Gonçalves. — A pessoa com a forma grave da dengue perde muito líquido de dentro dos vasos sanguíneos. Com isso, a pressão arterial cai, e o sangue não consegue irrigar os órgãos vitais. É importante ressaltar que a pessoa que está bem hidratada não morre de dengue. Não precisa esperar ir a um posto ou uma UPA para começar a se hidratar. O paciente pode já tomar soro caseiro (duas colheres de sopa de açúcar e uma colher de chá de sal de cozinha em um litro de água filtrada).
Rosemeire Celestino, auxiliar administrativa de 38 anos, mora em Jandira, cidade vizinha à capital paulista. Por causa da doença, ela teve que ficar 20 dias afastada do trabalho:
— Comecei a me sentir mal e já procurei o hospital. Lá fui diagnosticada com infecção urinária. Alguns dias depois, voltei e só aí me disseram que era dengue. Fiquei muito mal, fraca, não conseguia nem levantar da cama.
O professor Carlos Magno Fortaleza, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), acredita que há uma falha global nas questões relacionadas ao controle da dengue. Segundo ele, se por um lado há redução na letalidade (número de mortes pelo número de casos), por outro não há êxito no controle do vetor:
— Desde 2010, temos uma redução na mortalidade em relação ao número de casos. Mas, na ação efetiva contra o vetor, temos falhado. O poder público não consegue passar à população a mensagem para reduzir os criadouros. Há também outros fatores, como nosso modo de urbanização e a maneira de lidar com resíduos, que não é a mais adequada.
O infectologista diz que a volta da circulação do tipo 1 da dengue no estado e o fato de as pessoas, em razão da crise hídrica, armazenarem mais água em casa podem explicar o aumento no número de casos em São Paulo este ano.
Fonte: O Globo/RJ: 29/04/2015