Salvando os Yanomamis: diretor do SEESP em missão com FN-SUS

Marcelo Carvalho, diretor do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP), foi convocado para se juntar à Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa iniciativa, é promovida pelo Ministério da Saúde do Brasil e tem como propósito fortalecer o SUS durante emergências e desastres públicos.
O Ministério da Saúde mobilizou equipes de saúde para atender os indígenas da tribo Yanomami que residem na área que abrange partes dos estados de Roraima e Amazonas. A atividade de garimpo ilegal nas terras Indígenas atingiu níveis alarmantes, resultando em uma crise humanitária sem precedentes. Desde a sua demarcação e homologação, há trinta anos, nunca houve agravamento tão intenso da atividade ilegal de garimpo na região, como nos últimos quatro anos.
O relatório mais recente intitulado “Yanomami sob Ataque”, elaborado pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, descreve aumento significativo na atividade de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami entre 2016 e 2020, com crescimento alarmante de 3350%.
A extração ilegal de ouro e cassiterita na Terra Indígena Yanomami resultou em graves consequências, como o desmatamento e a destruição de corpos hídricos, bem como o crescimento alarmante nos casos de doenças infectocontagiosas, como a malária. Além disso, essas atividades ilegais também contribuem para violência contra os indígenas.
A ação da Força Nacional do SUS, visa garantir o acesso da população indígena a serviços de saúde de qualidade e combater a propagação de doenças na região. Marcelo, diretor do SEESP, declarou que, durante 15 dias de participação nessa primeira missão, teve uma experiência singular, impactante e, sobretudo, desafiadora.
A equipe profissional desembarcou na capital de Roraima, e lá permaneceu por 2 dias para organizar a logística e os recursos materiais solicitados pelo Ministério da Saúde, incluindo a obtenção de insumos na prefeitura e na Secretaria de Estado de Saúde.
Durante sua estadia em Boa Vista, Carvalho relatou que a retirada dos garimpeiros ilegais, ordenada pelo governo federal, teve impacto econômico significativo e negativo no mercado clandestino na região. Isso gerou conflitos entre gestores, políticos locais e parte da população, que passou a enxergar os indígenas como problema ou incômodo, destacando que embora a educação da população seja fundamental para valorizar e respeitar os povos indígenas, infelizmente isso nem sempre ocorre na prática.
Além disso, teve preparação antropológica conduzida por Marcos Antônio Pellegrini, professor do Instituto de Antropologia da Universidade Federal de Roraima, especializado em pesquisa na área de Antropologia da Saúde, Etnologia, Saúde Indígena, Memória e Performance. Isso permitiu que a equipe adquirisse uma base sólida de conhecimento prévio sobre a cultura dos Yanomamis.
Foi também disponibilizada ajuda psicológica aos profissionais para auxilia-los no enfrentamento das possíveis questões emocionais e psicológicas que poderiam surgir durante a missão, tendo em vista a extrema falta de assistência enfrentada pela comunidade Yanomami.
Após os dois dias, a equipe foi dividida em times e encaminhada para o polo chamado Surucucu, base da Força Aérea Nacional e do Exército. Posteriormente, foram distribuídos para outro subpolo chamado Kataroa, onde há uma instalação de Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI). Marcelo, conta sobre o choque cultural que sentiu ao chegar nesse local. “Os conceitos de saúde óbvios para nós, podem ser impossíveis para os indígenas, devido às diferenças culturais. Isso torna a adesão ao tratamento muito difícil. Em minha jornada profissional, já lidei com casos de pessoas em situação de vulnerabilidade, mas nada se compara à situação da crise humanitária dos Yanomamis.” destaca.
O diretor do SEESP também descreveu os principais problemas enfrentados na região: “Entre os Yanomamis, encontramos pessoas machucadas devido às atividades diárias, casos graves de desnutrição em crianças e adultos, além de doenças infecciosas e respiratórias, como pneumonia, há também por inalação de fumaça, devido ao hábito de acenderem fogueiras dentro de suas ocas para se aquecerem do frio, agravando a situação.”
A compreensão de higiene pessoal varia entre os Yanomamis, sendo que alguns possuem práticas menos adequadas que outros, o que pode facilitar a propagação de enfermidades. Os principais casos registrados são de cisticercose, parasitose transmitida pelo contato com fezes humanas infectadas com tênia, lombrigas, piolhos e sarna humana, ocasionado pelo modo de vida.
“É difícil manter atendimento contínuo para prevenir o reaparecimento das doenças e fortalecer os indígenas, pois essas patologias são oportunistas e podem piorar em casos de desnutrição. Corrigir a alimentação e tratar as infecções são importantes para os indígenas poderem ter condições de vida razoáveis.” afirma Marcelo Carvalho.
Durante os dias em campo, a equipe realizou busca ativa para atender os povos yanomamis que estavam em aldeias isoladas, enfrentando diversos desafios, incluindo terreno hostil, falta de infraestrutura e comunicação limitada.
“O surgimento do sentimento de impotência ao tentar convencê-los a continuar o tratamento com antibióticos ou antivirais, uma vez que muitos dos indígenas acreditam estar completamente curados após o alívio inicial dos sintomas. Essa sensação de angústia e aflição é ainda mais intensa quando as mães não permitem que as crianças sigam as orientações dos profissionais de saúde para melhorar a adesão ao tratamento.” Menciona.
O trabalho realizado pela equipe foi crucial para garantir que as necessidades dessas comunidades fossem atendidas e que recebesse a assistência necessária. No entanto, o diretor do SEESP afirma que essa degradação tem efeitos a longo prazo, incluindo danos físicos, cognitivos, ósseos e mentais, que afetarão o desenvolvimento futuro das tribos, podendo deixar sequelas duradouras.
“É um equívoco ideológico considerar os povos indígenas como uma questão secundária ou acreditar que eles devem ser forçados a adotar a cultura predominante. Algumas tribos possuem formas de vida únicas e, nos últimos anos, têm sido negligenciadas e deixadas à mercê da exploração por garimpeiros, que destroem seus territórios e afetam seus meios de subsistência.”
Em suma, os Yanomamis são exemplos de coragem e perseverança na defesa de sua cultura e modo de vida, e é importante que suas vozes sejam ouvidas e suas tradições respeitadas e preservadas. O Sindicato dos Enfermeiros de São Paulo promove a valorização dos povos indígenas, lutando contra a discriminação e a marginalização históricas que essas comunidades enfrentam.
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