Entrevista por: Khadja Ferraz
A convite do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP), o Enfermeiro Roberto Xavier de Araújo, autista e defensor da inclusão de pessoas neurodivergentes na área da saúde, compartilhou sua trajetória em uma entrevista marcante, na qual relata como foi receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 48 anos.
Após iniciar sua investigação diagnóstica em agosto de 2024, motivado por uma conversa instigante com uma colega durante uma palestra, Roberto buscou acompanhamento especializado e passou por uma série de avaliações. Em janeiro de 2025, recebeu os laudos conclusivos de TEA e TDAH, emitidos por um psiquiatra e uma equipe multidisciplinar.
Desde então, passou a dedicar-se à disseminação de informações sobre neurodiversidade, não apenas na área da saúde, mas também em diferentes contextos sociais, profissionais e educacionais. Seu objetivo tem sido contribuir para ambientes mais inclusivos, onde o respeito às diferenças e a valorização da singularidade de cada pessoa sejam pilares fundamentais.
Em entrevista, ele confessa que já sentia olhares e julgamentos por parte da equipe no seu ambiente laboral, em relação ao seu comportamento, que por muitas vezes era mal compreendido.
“Tentava me adaptar, me parecer com as pessoas típicas”, mas, entendeu que esse esforço o afastava de sua própria essência.
Além disso, relatou que diversas características do TEA já estavam presentes desde a infância. Entre elas, destaca as dificuldades de socialização, e o desconforto com ambientes muito movimentados ou barulhentos. Também menciona que nunca lidou bem com quebras de rotina, além de apresentar hiperfoco em assuntos específicos e um forte traço de perfeccionismo. Entretanto, ele afirma que tais pontos não comprometem seu dia a dia como enfermeiro, empresário e professor.
Roberto, descreve esse momento como um divisor de águas:
“Receber o diagnóstico foi libertador. Não foi um fim, está sendo o começo.”
O Enfermeiro destaca que o autismo, especialmente entre profissionais da saúde, ainda é invisibilizado. Após apresentar seu laudo médico à instituição onde atua, algumas iniciativas de apoio foram sugeridas — como a mudança de setor — numa tentativa de colaborar com sua adaptação. No entanto, ele pontua que, apesar das boas intenções, esse tipo de medida nem sempre considera a complexidade envolvida na inclusão de pessoas autistas, que exige mais do que ajustes pontuais: requer um olhar individualizado, empático e contínuo.
Roberto destaca que esse entendimento é ainda mais necessário na área da saúde, onde profissionais neurodivergentes frequentemente atuam de forma silenciosa e invisível, mesmo diante de desafios internos intensos. “Precisamos estar bem para cuidar de outras pessoas”, afirma.
Apesar dos obstáculos, Roberto se fortaleceu. Iniciou acompanhamento especializado, que o ajudou a desenvolver seu desempenho em atividades como leitura e concentração. Motivado por sua vivência, ele está em fase de abertura do Instituto Roberto Araújo Integra TEA, que terá abrangência nacional. A missão do Instituto é promover inclusão, acolhimento, diagnóstico e apoio a pessoas autistas de todo o Brasil.
Hoje, Roberto luta por mais inclusão, conscientização e estudos sobre o autismo na área da saúde, especialmente para profissionais que também são cuidadores.
Para saber mais:
Roberto Araújo se coloca à disposição para contribuir com palestras, rodas de conversa e ações formativas em instituições públicas e privadas, de forma totalmente gratuita.
Interessados em conhecer mais sobre o Instituto Roberto Araújo Integra TEA e os projetos que serão oferecidos gratuitamente à população podem entrar em contato pelo e-mail robertoaraujoatipico@gmail.com, pelo WhatsApp: (11) 9 8902-6498 e Instagram: @robertoaraujo_atipico
2 respostas
Parabéns pela matéria e pela lição de vida e coragem do Professor Roberto.
Essa iniciativa do Enfermeiro Roberto é maravilhosa, é uma forma de inclusão sensacional, e as informações e estudos feitos são de utilidade pública, parabéns pela sua trajetória, carreira e iniciativa. Ele é um ser humano incrível e um professor maravilhoso. Isso afirmo por experiência própria com certeza tudo o que aprendi e ainda aprenderei com ele mudaram minha vida como pessoa e profissional. Mais uma vez parabéns. E que mais pessoas possam ter a iniciativa de melhorar nosso mundo e também a área da saúde como um todo, não apenas em políticas mas também com profissionais preparados.