Manifesto de um enfermeiro
“Este texto dedico a todos os profissionais de Enfermagem que se sentiram desvalorizados e ofendidos com as palavras do apresentador Danilo Gentili, a ele mesmo e a todas as pessoas que ainda não sabem o que é a Enfermagem.
Desejo que este senhor aprenda com os profissionais da Enfermagem a arte e ciência do respeito ao ser humano e a ética profissional, pois são estes trabalhadores que durante 24 horas do dia, nos 365 dias do ano, deixam o mundo um pouco mais humano”. – Mafu Vieira
Respeito é bom e todo mundo gosta!
Minha origem remonta antes mesmo do que a mais antiga civilização. Nasci junto com a dor do ventre e o amor, cuidado e proteção do seio materno.
Meus primeiros passos foram com os primeiros passos que corriam descalços para caçar a sobrevivência da família; fui desenvolvendo, intuitivamente, os cuidados das feridas com as ervas.
As pirâmides testemunharam meu progresso, agora com os nomes de sacerdotes, sacerdotisas, curandeiros… queria apenas e simplesmente cuidar e curar, e aprendi a respeitar o corpo após a morte ao tentar mantê-lo para ser usado na outra vida.
Nos templos, comecei a construir minha casa. Era chamada o tempo todo para fazer os partos que a própria natureza ajeitava, mas levava mais conforto e confiança e os primeiros cuidados com as mães e filhos eram meus.
Nas terras de Buda, construíram casas para que os enfermos pudessem ser melhores cuidados, desenvolvi correções de fraturas, aprimorei minha observação de cuidados com a alimentação, higiene e até cantei e contei histórias para distrair os doentes.
Se Apolo foi o deus sol e da saúde, a vitalidade com tônicos fortificantes, dietas, massagens, ginásticas, foram indicadas para se ter saúde.
No grande Império, fui desprezada e meus cuidados foram delegados aos escravos sem nenhum preparo e, pior, sem amor pelo próximo, principal qualidade para me fazer presente verdadeiramente.
Durante a Era Cristã, fui apropriada pelos religiosos; templos com anexos para a hospedagem de viajantes e doentes foram construídos e da hospitalidade veio o nome da minha casa – Hospital.

São Camilo de Lellis, padroeiro dos enfermeiros
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São Francisco de Assis, protetor dos animais, pobres e doentes
Minhas funções eram inúmeras (aliás, como são até hoje), sob os ensinamentos do Nazareno, de amar ao próximo como a ti mesmo. Ia para as cozinhas para cuidar do alimento físico, curava as feridas dos leprosos, cuidava e educava os órfãos, fazia os preparados para medicação com as ervas, ensinava a palavra do Senhor, o verdadeiro alimento espiritual, e acalentava na hora da morte.
Desta devoção nasceram verdadeiras santidades. Foi assim com Clara e Francisco que abnegaram da própria vida para se dedicarem aos pobres e doentes. Lucas e Vicente de Paula também foram grandes transformadores de almas. Oficialmente, tenho dois patronos ou padroeiros: Camilo de Lellis e João de Deus, mas na verdade, se até Jesus Cristo curou enfermos e lavou os pés dos apóstolos, me sinto num exército de santos e anjos.
A Reforma Religiosa me retrocedeu em alguns reinos, onde os religiosos católicos da época foram expulsos. Esse foi um período negro da minha história, quando os hospitais se transformaram num amontoado de homens, mulheres e crianças, que foram tratados por pessoas de má índole e foram me exercer como castigo por maus comportamentos sociais.
Foi na guerra da Criméia que a minha presença se destacou, pois foram meus cuidados separando os feridos graves dos menos graves, com biombos improvisados, cortando as tendas para entrar ar puro e sol, limpando e curando feridas, administrando remédios, cuidando da comida e providenciando roupas limpas e higiene corporal diante do caos… e sob a luz de uma lamparina, fui de leito em leito para observar e cuidar dos mais graves, para levar um pouco de esperança e luz a quem estava desolado e sofrendo dores inimagináveis. É, senhor, fui um grande diferencial entre a vida e a morte de muitos.

Florence Nightingale, a matriarca da Enfermagem moderna
Ganhando destaque e notoriedade, fui aplaudida, condecorada e ganhei status de heroína e meu caminho, agora reconhecido, começou sua trilha e reconhecimento como ciência.
No Brasil, também fui à Guerra do Paraguai e o meu trabalho foi tão importante que ganhei o título de Mãe dos Brasileiros. A partir de então, ganhei escolas e faculdades e também sou uma heroína brasileira.

Anna Nery, enfermeira heroína na Guerra do Paraguai – a Mãe dos Brasileiros
Por isso, senhor, nunca se indigne a dizer a um discípulo meu que se tivesse estudado um pouco mais seria um médico, pois nós estudamos… e estudamos muito! Hoje, são quase dois milhões só no Brasil, entre os níveis médios e superiores. São especialistas, mestres, doutores, pós doutores, livres docentes, titulares e estão por todas as partes: no leito de um hospital distante, numa tribo indígena isolada, nos grandes centros, nas universidades e centros de pesquisas, Ministério da Saúde, entre tantas outras organizações.
São grandes profissionais, que carregam também o sacerdócio e representam mais de 60% da força de trabalho em saúde do nosso país. Estão na beira dos leitos, na administração das unidades de saúde, no pré, intra e pós operatório, nos postos de saúde, curando feridas e vacinando seus filhos, enfrentando epidemias e quase sempre sendo vítimas fatais delas, levando um sorriso e trazendo as crianças à vida ou, possivelmente, sendo as últimas pessoas que você verá em seu leito de morte, sempre com a ética e o respeito ao ser humano, pois antes de eu ser ciência, sou arte, pois cuido do corpo, templo de Deus.
Portanto, senhor, desejo que você aprenda com os meus seguidores a arte e ciência do respeito ao ser humano e a ética profissional, pois do lado de cá, muito me honram esses trabalhadores, que durante 24 horas do dia, nos 365 dias do ano, deixam o mundo um pouco mais humano.
Se você não conhecia a minha grandeza e a epopéia da minha história, senhor, muito prazer: SOU A ENFERMAGEM!
Este texto dedico a todos os profissionais de Enfermagem que se sentiram desvalorizados e ofendidos com as palavras do apresentador Danilo Gentili, a ele mesmo e a todas as pessoas que ainda não sabem o que é a Enfermagem.
Parabéns, amigos e companheiros de jornada, pelo nosso dia – 12 de maio – Dia Mundial do Enfermeiro!
Fonte: Jornal O Lorenense